quarta-feira, 26 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL VIII - JUCICLEIA

Tardezinha avermelhada na megalópole. Dedéu, o padrasto, chegou bêbado e foi dormir. Anderson e os outros irmãos foram até o campinho jogar bola. Jucicleia brinca com a Barbie sem braços e pelada que o Dedéu achou por aí e deu para ela. No ar, o cheiro de merda de sempre. Dindinha, a filha da vizinha, também vem para brincar. O cabelo das duas é um emaranhado feito palha de aço.
- Vamos brincar de mamãe e filhinha?
- Vamos. Quem vai ser a filhinha?
- Você. Eu sou a mãe e a Barbie é a sua irmã.
- Tá.
O helicóptero da polícia sobrevoa a favela invasão. Alguma encrenca deve ter rolado nas redondezas. Ele para no ar, a baixa altitude, e o rotor das pás ecoa em sons pipocados e gigantes. No fundo, o assobio de um turbo. Jucicleia acha bonito. A mãe chama e as meninas entram no barraco. A mãe está fazendo a janta. O dinheiro do bolsa família só dá para um dia. Na TV em cima da cômoda velha, Datena, aos perdigotos, tenta pedir para o governador ligar para ele. O governador, que nunca foi besta, omite-se em profundo silêncio.

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