sexta-feira, 28 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL IX - FUD E IDO

Esquentou. Parece que o inverno já está cedendo o seu lugar aos perfumes da primavera. Fud e Ido, os velhos ex funcionários da Bundabras, a empresa privatizada no governo FHC, estão por ali, naquele mesmo boteco, na mesma mesa, na mesma vida, nas mesmas amarguras da existência arrastada. A tardinha cai por entre as folhas da paineira, junto ao alarido de beleza pobre dos pardais, esforçados, parece, em dar um pouco de alegria medíocre ao ambiente. O garçon, velho conhecido, passa saltitando entre as mesas:
- Xereca Pilsen?
Ido rebate, de pronto:
- Manda duas. E uma porção de salame.
Fud dá início à contenda platônica, que já é hábito entre os dois pobres coitados, como se fossem dois Sócrates de túnica rota e esfarrapada:
- Porque FHC privatizou apenas uma pequena parte da economia nacional?
Ido faz uma carinha vazia, como se não soubesse a resposta, ou como se estivesse perdido. Fud continua:
- Porque FHC empurrou para apenas uma pequena parcela da população, nós entre esta parcela, a discussão entre a privatização e a estatização?
Ido com cara de bunda. Fud vai em frente:
- Porque FHC faz pose de avatar do liberalismo econômico se nunca foi liberal coisa nenhuma, se na verdade sempre foi um mauricinho, um intelectual meia boca, cientista político das negas dele, que vive de aposentadorias públicas boas? E agora já são três as aposentadorias públicas, a de ex presidente, a de professor, em cargo dado de presente pela ditadura, na USP, e agora também ganha a pensão deixada pela mulher, que bateu a cachuleta recentemente. Sem contar o dinheiro que barganha com a tal fundação, que criou. Resumindo, meu amigo, FHC privatizou o nosso emprego, mas manteve as prerrogativas públicas dele. Nós tomamos no rabo e o país não mudou nada.
Ido resolve dar o ar do seu fabuloso espírito:
- Por que esse filhodaputa não vai tomar no cu?
Em sua patética e penosa tristeza, Ido deixa cair nas calças um pedaço de salame que estava grudado no bigode. Um casalzinho de namorados começa a brigar na mesa do lado.

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