quinta-feira, 6 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL V - FUD E IDO ENCONTRAM ARROMB E ADO

Parece que, depois de um breve hiato, o inverno voltou e uma brisa gelada varre cruelmente a calçada do velho bar amado. O céu está cinza. São as tardes gris, como cantam os poetas. Fud e Ido, aqueles dois ex funcionários da Bundabras, a empresa privatizada por FHC, estão ali, na mesma mesa de hábito, tomando Xereca Pilsen com tremoço. Fud aponta para uma mesa ao longe:
- Ido, dá uma olhada naqueles dois ali adiante. Não são o Arromb e o Ado?
Ido confere:
- São eles mesmo.
- Eles não fizeram o plano de demissão voluntária da Bundabras e continuaram trabalhando lá.
- Sair ou não foi uma decisão difícil que todos nós tivemos de tomar. Eu respeito a decisão deles. São casados, como nós. Precisam do emprego.
- É, mas eu estou ouvindo dizer que a coisa por lá não está bolinho. A empresa turca que comprou a Bundabras está ameaçando de demissão os empregados velhos.
Duas garotas bonitas passam pela mesa de Fud e Ido e eles param de falar para dar uma secada clássica nas bundas. O silêncio dura mais de um minuto. Fud e Ido encaram as bundas até as garotas virarem a esquina. Fud continua:
- Lembra do Judiação?
- Lembro.
- Foi mandado embora. Tomou um pé no cu. E como não estava mais no prazo para a opção no plano de demissão, ele se fudeu a seco.
- Nossa. Nós, pelo menos, pegamos uma merreca.
Uma velha passa vendendo amendoim, seguida por um cabeludo que passa vendendo livros de poesia ruim. Cai o pano da tarde fria. O manto da noite invernal começa a cobrir o palco das tristezas de Fud e Ido.

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