sábado, 29 de agosto de 2009

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL IX - FUD E IDO

Esquentou. Parece que o inverno já está cedendo o seu lugar aos perfumes da primavera. Fud e Ido, os velhos ex funcionários da Bundabras, a empresa privatizada no governo FHC, estão por ali, naquele mesmo boteco, na mesma mesa, na mesma vida, nas mesmas amarguras da existência arrastada. A tardinha cai por entre as folhas da paineira, junto ao alarido de beleza pobre dos pardais, esforçados, parece, em dar um pouco de alegria medíocre ao ambiente. O garçon, velho conhecido, passa saltitando entre as mesas:
- Xereca Pilsen?
Ido rebate, de pronto:
- Manda duas. E uma porção de salame.
Fud dá início à contenda platônica, que já é hábito entre os dois pobres coitados, como se fossem dois Sócrates de túnica rota e esfarrapada:
- Porque FHC privatizou apenas uma pequena parte da economia nacional?
Ido faz uma carinha vazia, como se não soubesse a resposta, ou como se estivesse perdido. Fud continua:
- Porque FHC empurrou para apenas uma pequena parcela da população, nós entre esta parcela, a discussão entre a privatização e a estatização?
Ido com cara de bunda. Fud vai em frente:
- Porque FHC faz pose de avatar do liberalismo econômico se nunca foi liberal coisa nenhuma, se na verdade sempre foi um mauricinho, um intelectual meia boca, cientista político das negas dele, que vive de aposentadorias públicas boas? E agora já são três as aposentadorias públicas, a de ex presidente, a de professor, em cargo dado de presente pela ditadura, na USP, e agora também ganha a pensão deixada pela mulher, que bateu a cachuleta recentemente. Sem contar o dinheiro que barganha com a tal fundação, que criou. Resumindo, meu amigo, FHC privatizou o nosso emprego, mas manteve as prerrogativas públicas dele. Nós tomamos no rabo e o país não mudou nada.
Ido resolve dar o ar do seu fabuloso espírito:
- Por que esse filhodaputa não vai tomar no cu?
Em sua patética e penosa tristeza, Ido deixa cair nas calças um pedaço de salame que estava grudado no bigode. Um casalzinho de namorados começa a brigar na mesa do lado.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Enquanto isso....



O nosso presidente tomando todas.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL VIII - JUCICLEIA

Tardezinha avermelhada na megalópole. Dedéu, o padrasto, chegou bêbado e foi dormir. Anderson e os outros irmãos foram até o campinho jogar bola. Jucicleia brinca com a Barbie sem braços e pelada que o Dedéu achou por aí e deu para ela. No ar, o cheiro de merda de sempre. Dindinha, a filha da vizinha, também vem para brincar. O cabelo das duas é um emaranhado feito palha de aço.
- Vamos brincar de mamãe e filhinha?
- Vamos. Quem vai ser a filhinha?
- Você. Eu sou a mãe e a Barbie é a sua irmã.
- Tá.
O helicóptero da polícia sobrevoa a favela invasão. Alguma encrenca deve ter rolado nas redondezas. Ele para no ar, a baixa altitude, e o rotor das pás ecoa em sons pipocados e gigantes. No fundo, o assobio de um turbo. Jucicleia acha bonito. A mãe chama e as meninas entram no barraco. A mãe está fazendo a janta. O dinheiro do bolsa família só dá para um dia. Na TV em cima da cômoda velha, Datena, aos perdigotos, tenta pedir para o governador ligar para ele. O governador, que nunca foi besta, omite-se em profundo silêncio.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

sábado, 22 de agosto de 2009

Adilson em Manaus parte 01



Depois de um pequeno acidente em seu vôo para Manaus, Adílson sai do aeroporto com sua mochila jeans da Medley no ombro. Ele entra no primero táxi que encontra. O taxista é um senhor de idade que está fazendo as cruzadinhas do jornal.

- [Taxista] Bom dia!
- [Entregando um papelzinho amassado] Me leva nesse endereço aê.
- É pra já.

O taxista entra na avenida e puxa conversa.

- Viu o acidente que teve agorinha no aeroporto? Parece que teve um pouso de emergência.
- Tô por fora. Deve ser coisa besta.
- Coisa besta? O avião saiu da pista e um monte de gente morreu! Tão falando aqui no rádio!
- Besteira.
- [Encabulado] Bem...mas é sua primeira vez aqui em Manaus?
- Segunda.
- Gosta daqui?
- Não. Só venho aqui pra comer puta e encher a lata.
- [Sem graça] Ah...tá. Vou botar uma musiquinha pra gente.

O taxista liga o rádio. Está tocando "Maria Magdalena", da Sandra, em um programa de flashback. Adílson olha para o relógio e se vira para o taxista.

- Aí, vovô, acelera essa porra! Tenho que chegar nesse endereço em 5 minutos. Tô atrasado!
- Mas o que vo...
- [Esgoelando o taxista] ACELERA, VOVÔ! É URGENTE!!!

O taxista se assusta e mete o pé no acelerador. O carro voa pelas ruas.

- [Taxista, sendo esgoleado] M-moço, não sou de dirigir depressa!
- Foda-se. Acelera aí. Fibra nessa porra! Te pago mais 5 pilas pela corrida!
- Mas tem c-como você parar de apertar meu p-pescoço?
- É uma.

Adílson para de esgoelar o taxista e tira um garfo de sua mochila. Ele encosta o garfo na costela do senhor.

- Se você não chegar a tempo, eu te espeto com esse garfo. Acelera, caralho!
- N-NÃO PRECISA DESSA V-VIOLÊNCIA TODA!
- Porra!

O táxi se aproxima de uma escola de nível fundamental. Crianças estão atravessando na faixa de pedestres em frente da escola.

- [Taxista] Vou ter que frear! Tem criança ali!!!
- Se você pisar no freio, você vai sentir meu garfo no teu fígado.
- [Acelerando] AHHHHHHHHHHHHH!!!
- Fibra, caralho!

Adílson encosta o dedo no bigode, entra em transe e o táxi dá um salto por cima da faixa de pedestre. Ao aterrisar, um dos pneus acerta a cabeça de uma das crianças, que desmaia.

- [Taxista] COMO É QUE O CARRO FEZ ISSO?? JESUS AMADO!!!
- Na raça. Pé na tábua nessa budega!

O táxi vira a esquina cantando pneu. Uma das calotas voa longe. Logo em frente, o semáforo fica vermelho. Uma velhinha atravessa a rua.

- [Taxista] Jesus, eu vou atropelar aquela senhora! AHHHHHHHHHHHHH!!!
- Vovô, tu é um fresco.

Adílson puxa um pêlo do bigode e joga no assoalho do carro. O carro, repentinamente, dá uma virada brusca para a esquerda e apenas o retrovisor atinge a velhinha de raspão. A velhinha cai de cara no chão.

- [Taxista] Meu Deus! E-Eu acertei aquela senhora! Eu tenho que socorrer ela!!!
- [Espetando com o garfo] Nem tenta, vovô! Acelera essa porra que meu tempo tá acabando!

O taxista continua dirigindo a quase 100 km/h. Em menos de 10 minutos ele chega no destino de Adílson. O taxista estava tremendo de tão tenso.

- [Adílson] É aquela casa ali.
- T-tá!

O taxista pára o carro em frente da casa que o Adílson apontou.

- [Taxista] Ai, meu braço esquerdo tá doendo! A-acho que é o meu coração!
- É a vida. Mas aí, toma a grana da corrida com 2 conto de acréscimo. Ia dar 5, mas mudei de idéia. Toma também um Nutry que eu ganhei no avião.
- [Segurando o peito] Ai, acho que isso é enfarte! Me ajuda, ahhhhh...
- Falou, vovô.

O taxista desmaia e cai de cara no volante. A buzina do carro dispara.

- Aí, vovô, vendo Maguila Grill e instalo na tua casa! Também arrumo parte elétrica, lavo sofá e mais um monte de coisa. Pega meu cartão. Qualquer coisa me dá uma ligada.

Adílson deixa seu cartão xerocado no painel do carro e entra na casa pulando o muro. Ele corre até a porta e a arromba com um chute. Seu primo, que está deitado no sofá, leva um susto.

- Porra, Adílson! De novo chutando essa porta? Caralho, aperta a porra da campainha!
- Cala a boca! Estou com pressa. Liga a TV no Globo Esporte! Rápido!

O primo de Adílson liga a TV e sintoniza no Globo Esporte. Adílson fica concentrado na TV coçando o bigode.

- [Adílson] O Guarani perdeu o jogo de ontem?
- Perdeu.
- Merda.
- Ei...mas que barulho de buzina é esse do lado de fora? O cara tá buzinando sem parar!
- Tô por fora. Deve ser coisa besta. Vou ali dar um cochilo.
- Tá.

Continua...


Por Bigotron

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mulheres do Brasil



Tem noção?

FRAGMENTOS DO BRASIL VII - DEUSDEDIT DA SILVA

No meio da tarde o trânsito é infernal. Deusdedit (na invasão ele é o Dedéu) vai pelo meio fio da avenida, puxando o seu carrinho de reciclados. Atrás vem Xuxa, a cadelinha de estimação e companheira das ruas. Um carro passa buzinando. Beeeeepp beep.
O motorista abre os vidros:
- Tira essa bosta do meio do caminho, caralho!
- Ah, vai dar o cu na zona, porra.
O carro vai em frente, com a pressa impensada e geralmente sem propósito do brasileiro médio. Xuxa late na calçada. Faz calor. Dedéu para no boteco mais próximo para tomar a terceira.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Serio?



Ainda me surpreendo bastante

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL VI - MARLEIDE

Mal o sol despontou e Marleide já está de pé no pequeno barraco da invasão. Fez um cafezinho fraco e acordou as crianças. É a hora da escola e ela precisa sair para o trabalho. O córrego que passa ao lado do barraco traz boiando o cadáver de um animal. Não dá para saber o que é. O cheiro de merda habitual reina no ambiente. Sobre a água, a névoa típica do inverno. Jucicleia, a filha mais novinha, acorda tossindo.
- Mãe, tem café?
- Toma.
- Só isso?
- É. Depois você come na escola.
- Eu não quero comer na escola. Quero comer em casa. Mãe, os filhos do governador comem na escola?
- Não. Acho que eles enchem o cu de sucrilhos em casa mesmo.
As outras crianças vão acordando. Todas tossindo. Criança tosse de manhã. Pobre tosse mais.
- Mãe, o Anderson peidou embaixo do cobertor.
Um ronco sinistro, intermitente e indecifrável vem de longe. É a megalópole despertando. Marleide lembra que, na hora do almoço, precisa passar na Caixa para pegar o bolsa família, o dinheirinho vazio, minguado e inútil. Marleide não é besta. Que não contem com o voto dela. A rama verde está molhada de orvalho. Um sol de brilho de cristal desponta no céu. Logo logo vai esquentar.

Edir, Jesus e a Lavagem


Edir Macedo e nove líderes da Igreja Universal Reino de Deus são acusados, pelo Ministério Público de S. Paulo (Brasil), de associação criminosa e lavagem de dinheiro. Esse dinheiro à custa das doações dos fiéis que são isentas de tributação. O apelo ao pagamento do dízimo (10% dos rendimentos) e às ofertas monetárias fazem parte de uma agressiva campanha de marketing concretizada pela Universal em todos os cultos ou eventos, nas emissões televisivas e até nas páginas online. Em contrapartida, a IURD, além de ministrar a sua fé e prometer curas e ajudas para todo o tipo de males, dá formação de carácter económico nos "congressos financeiros" que promove. Como Prêmio ao fiés,Um diploma assinado por JESUS e uma chave do céu.

Quanto Edir repassa a Jesus?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Bom Exemplo



Se Beber não dirija...

Adílson - Vôo 1066


Adílson estava indo para Manaus visitar um primo e conhecer um puteiro novo que apareceu na cidade. Ele tinha ganho o dinheiro da passagem em uma partida de truco, na qual ele ameaçou de morte todos os jogadores caso perdesse.

Dentro do avião, Adílson esperava o tempo passar com uma mochila jeans no colo, a sua única bagagem. Ao seu lado havia um rapaz que não parava de digitar em um laptop. O barulho do teclado já estava irritando o bigodudo.

- Moleque, o que você tá escrevendo aí?
- Estou escrevendo um post pro meu blog.
- "Brógui"? "Pôsti"? Que porra é essa?
- É tipo um diário virtual onde você pode falar de qualquer assunto. Meu blog fala de bandas de rock [mostra orgulhoso sua camisa do Metallica].
- Banda de rock? Tu dá a bunda, meu filho?
- Como..?
- Tu dá a bunda? Porra, ficar escrevendo sobre esse monte de macho cabeludo? Enche essa porra de "brógui" com foto de buceta. Internet só serve pra mostrar mulher pelada e putaria.
- [Sem graça] ...
- Mas aí, vendo Maguila Grill e instalo na tua casa! Também arrumo parte elétrica, lavo sofá e mais um monte de coisa. Pega meu cartão. Qualquer coisa me dá uma ligada.

Adílson tira um pequeno pedaço de papel xerocado da mochila com o texto: "Serralhero. Lavo sofá. Fasso churrasco. Elétrica em gerau. Vendo Maguila Grill. Adílson: 9969-6969."

O rapaz, apreensivo, pega o cartão e guarda no bolso.

- [Adílson] Vê se liga, porra! Tu tem cara de barão, deve pegar puta todo dia.
- [Amedrontado] Tá...

A aeromoça se aproxima com o carrinho de bebidas.

- [Aeromoça] O senhor gostaria de beber alguma coisa?
- Tem PITU?
- Não. Mas temos Campari, uísque, vodka...
- Campari é bebida de puta. Some da minha frente!
- [Sem graça] É...com licença...

Irritado e sem ter o que fazer, Adílson puxa assunto novamente com o pobre rapaz ao seu lado.

- [Apertando o pau por cima da calça] Moleque, me empresta seu computa aí. Bota num site de putaria filé para eu ver. Tem nada pra fazer nessa porra!
- Você quer meu laptop para entrar em site pornográfico?
- É. Se for bacana eu bato uma.
- Você vai bater punheta aqui?
- É. E qual o problema? Quer bater pra mim, filho da puta?

Antes de Adílson terminar de falar, o avião entra em turbulência. O avião subia e descia como se estivesse em uma montanha russa. Gritos de desespero ecoam pela aeronave. Para completar, uma turbina da asa direita começa a soltar fumaça e fazer um barulho estranho. Adílson vê a turbina soltando fumaça e cutuca o rapaz.

- [Adílson] Moleque, acho que a gente vai rodar!
- [Olhando para a turbina avariada] MEU DEUS!!! MEU DEUS!!! AHHHHHHH!!!!
- Esse avião precisa de heróis.

Adílson se levanta e, com muita dificuldade, vai na direção da cabine. No caminho ele encontra a aeromoça tentando apertar os cintos de sua poltrona.

- [Aeromoça] SENHOR, VOLTE JÁ PARA SUA POLTRONA E APERTE OS CINTOS! ESTAMOS COM PROBLEMAS!
- Não enche, filho da puta.

Adílson chega perto da cabine e tenta abrir. Estava trancada. Com um chute ele arromba a porta. Rapidamente ele entra na cabine e assusta um dos pilotos:

- EI, O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO AQUI? TÁ MALUCO? SAIA LOGO DAQUI!
- Entro onde eu quiser.

Com um tapa Adílson faz o piloto voar do assento e desmaiar. O outro piloto arregala os olhos:

- MEU DEUS, VOCÊ ATACOU O CO-PILOTO! AGORA ELE DESMAIOU E NÃO TENHO NINGUÉM PRA ME AJUDAR! QUER MATAR A GENTE???
- Foda-se.
- [Falando com o rádio] TORRE, ESTAMOS COM PROBLEMAS! ESTOU EM TURBULÊNCIA E A TURBINA 3 PAROU! E AINDA ENTROU UM MALUCO NA CABINE!!!
- Deixa eu dirigir nessa merda.
- Você é piloto??
- Já pilotei balsa em Tocantins. É tudo a mesma merda.
- Meu Deus...tá, assume o lugar do co-piloto!

Adílson assume o lugar do co-piloto. Ao sentar, fica irritado com o painel:

- Caralho, quanta luzinha e plim-plim na minha orelha. Tomar no cu.
- O quê..?

Adílson começa a esmurrar o painel e puxar a fiação. O painel começa a soltar fumaça e faíscas. O piloto fica estarrecido:

- CARA, O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? VOCÊ ESTÁ DESTRUINDO NOSSOS INSTRUMENTOS!!!
- Isso aê. Instrumento é coisa pra banda. Aqui é fibra.
- M-mas como vamos nos orientar sem os instrumentos? Você está louco???
- Cala a boca.

Adílson encosta os dedos no bigode e entra em transe. Depois de alguns instantes ele volta a si.

- [Adílson] Meu bigode analisou a corrente de ar e toda a vibração do ambiente. O aeroporto tá naquela direção [aponta para a direita].
- C-Certeza..?
- [Olhando feio] Tá duvidando?
- Ok, ok! Mas com essa turbina 3 parada vai ser difícil aterrisar!
- Fica frio.

Adílson tira um pêlo do bigode, dá uma lambida e o joga no painel. Milagrosamente a turbina 3 volta a funcionar.

- [Piloto] Meu Deus, como você fez isso??
- Na raça. Agora temos que pousar essa merda.
- A pista de pouso está logo ali! M-Mas...o trem de pouso não está funcionando! Você arrebentou o botão que aciona o trem de pouso!
- Trem de pouso é coisa de viado. Bora aterrisar arrastando a lataria. Filho da puta.
- MEU DEUS!!! AHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!
- Fibra nessa porra!

Adílson manobra como se fosse um piloto experiente e faz o avião aterrisar arrastando a barriga na pista. Faíscas saem do atrito da aeronave com o chão. O avião acaba ultrapassando o limite da pista e capotando em um gramado logo a frente. O avião pára de cabeça para baixo.

- [Piloto] Ai...ai...não sinto minhas pernas...ai...
- Porra, capotagem besta dessas e você já tá gemendo? Levanta e vira homem. Mas aí, se quiser comprar um Maguilla Grill eu vendo e instalo. Toma meu cartão.

Adílson joga o cartão perto do piloto e sai da cabine. Ao entrar na ala dos passageiros, vê poltronas reviradas e corpos para todo o lado. Ele trata de procurar sua velha mochila jeans e vai na direção da porta, que estava fechada. Com um soco ele atravessa o vidro e abre a porta pelo lado de fora. Adílson sai correndo na direção do aeroporto e desaparece no horizonte.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Festival II






FRAGMENTOS DO BRASIL V - FUD E IDO ENCONTRAM ARROMB E ADO

Parece que, depois de um breve hiato, o inverno voltou e uma brisa gelada varre cruelmente a calçada do velho bar amado. O céu está cinza. São as tardes gris, como cantam os poetas. Fud e Ido, aqueles dois ex funcionários da Bundabras, a empresa privatizada por FHC, estão ali, na mesma mesa de hábito, tomando Xereca Pilsen com tremoço. Fud aponta para uma mesa ao longe:
- Ido, dá uma olhada naqueles dois ali adiante. Não são o Arromb e o Ado?
Ido confere:
- São eles mesmo.
- Eles não fizeram o plano de demissão voluntária da Bundabras e continuaram trabalhando lá.
- Sair ou não foi uma decisão difícil que todos nós tivemos de tomar. Eu respeito a decisão deles. São casados, como nós. Precisam do emprego.
- É, mas eu estou ouvindo dizer que a coisa por lá não está bolinho. A empresa turca que comprou a Bundabras está ameaçando de demissão os empregados velhos.
Duas garotas bonitas passam pela mesa de Fud e Ido e eles param de falar para dar uma secada clássica nas bundas. O silêncio dura mais de um minuto. Fud e Ido encaram as bundas até as garotas virarem a esquina. Fud continua:
- Lembra do Judiação?
- Lembro.
- Foi mandado embora. Tomou um pé no cu. E como não estava mais no prazo para a opção no plano de demissão, ele se fudeu a seco.
- Nossa. Nós, pelo menos, pegamos uma merreca.
Uma velha passa vendendo amendoim, seguida por um cabeludo que passa vendendo livros de poesia ruim. Cai o pano da tarde fria. O manto da noite invernal começa a cobrir o palco das tristezas de Fud e Ido.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

terça-feira, 4 de agosto de 2009

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL IV - A DOCE DORALICE

Doralice conheceu o Fud ainda nas carteiras do Colégio Sagrado Coração de Jesus. Como todo bom colégio católico, havia no prédio um jardim interno, com muito verde, com rosas e gerânios cor de sangue, e bebedores para colibris, que sempre apareciam para alegrar as manhãs frescas. Era ali que Doralice se sentava, nos bancos de madeira talhada, para namorar com o Fud na hora do recreio. Doralice era a mais bonita da classe, embora, parecia, não desse muita conta disso. Carregava com a beleza uma rara dose de modéstia e simplicidade. Nas roupas e no espírito. Era de pais italianos, mas tinha o apelido de "Perla", devido a beleza morena e os cabelos lisos, negros e brilhantes, que iam até a cintura, iguais aos da cantora paraguaia. Já Fud era um menino comum. Nem belo nem feio. Mas que teve a ventura de ser amado por Doralice. Quando ela anunciou o namoro em casa, o pai, seu Alaor, sargento da aeronáutica, prestimoso, mas um urso grizly quando o assunto era homem se aproximando da filha, teve um troço:
- Quem?
- O Fud, pai.
- Queeeemm??
- Fud, o filho da dona Ermelinda.
- Aquele cachaceiro?
- Não, papai.
A contragosto, o velhão aceitou o casamento. Amor de filha não dá para combater. Demais a mais, o rapaz não era santo, mas também não era o demônio. Pedir aceitação do sargento Alaor, no entanto, era muito. Ainda mais que Fud levou a menina para morar no subúrbio. A coisa somente deu uma guinada de 490 graus quando Fud foi aprovado no concurso público da Bundabras. Alaor virou outro. Era todo sorrisos e gentilezas com o genro. Dizia sobre o rapaz, para as visitas, nos aniversários de família:
- É meio cachaceiro, mas boa pessoa. É bugrino e até gosta de pescaria o lazarento.
E assim correram os anos. Muitos foram de felicidade e de sorrisos pelos corredores da pequena casa do subúrbio, de onde Fud não se mudou, embora na época da Bundabras pudesse tê-lo feito, onde nasceram os filhos (Carlinha e Fud Junior), ou outros, raros, de tristeza, como no dia da morte da avó do Fud, que o criou.
Hoje, como sabemos, Doralice ainda mora no subúrbio, com Fud, que perdeu o bom emprego, vítima do processo político perverso. Ainda está bela. Envelheceu um pouco, mas nem de longe perdeu o brilho dos cabelos e a cintura de pilão. O sorriso carnudo e de dentes perfeitos ainda reina no rosto de tez macia. E Doralice está feliz. No meio da tarde, alguns cães ladram e a campainha toca. É dona Marcinha, a vizinha da casa de cima, que chega falando ansiosa sobre o aniversário da nora. Quer fazer reflexo e as unhas. Doralice atende com um sorriso de anjo. A felicidade de Doralice nunca esteve na casa, modesta, e sequer nas roupas, também modestas. A felicidade de Doralice está no amor que sempre sentiu por Fud, o sortudo filhodaputa.

sábado, 1 de agosto de 2009

Lula pra Obama



companhêrof