sábado, 31 de outubro de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL XIV - MARLEIDE APARECIDA

Hoje não teve aula. É a gripe suína. Marleide vai com Jucicleia até a fila das inscrições das casas do PAC. Ela quer uma casa porque ela sabe que a invasão é precária e uma hora qualquer vai levar um pé na bunda. Já vieram dizer que tem um processo na justiça. Qualquer hora a polícia entra no terreno para tocar todo mundo dali. Marleide está cansada do barraco, daquelas paredes finas, daquele teto furado, do vento frio que penetra. Às vezes ela se lembra da música que a mãe dela cantava: "a porta do barraco era sem trinco...mas a lua furando nosso zinco... salpicava de estrelas nosso chão...". A canção ecoa na memória de Marleide. Ela se dá conta de que a imagem poética não é real. No barraco, quando faz frio, o vento dói e incomoda as crianças. E ela vai caminhando até a fila do PAC. Ela chega no local. A fila contorna o quarteirão. E é apenas o primeiro dia. Marleide percebe que não haverá casa para todos. Ela percebe que vai faltar muita, muita, mas muita casa mesmo. Ela hesita entre esperar e ir embora, desolada. Ela nota que o PAC é apenas mais uma das promessas eleitoreiras do barbudinho cretino, mais ignorante do que ela, porém mais esperto. Jucicleia abraça a Barbie sem braços e pelada:


- Mãe, qui qui é PAC?

- É a pacquipariu.

Nenhum comentário:

Postar um comentário