sexta-feira, 11 de setembro de 2009

FRAGMENTOS DO BRASIL XI - XUXA

Quando Dedéu está dormindo, Anderson chama Xuxa para irem até o campinho de futebol da invasão. A pequena cachorrinha preta vai alegre, com um abanar de rabo que é um sorriso. Ela acha que seu verdadeiro dono é Anderson, e não Dedéu, aquele sujeito grande, que a chuta, às vezes, e que não lhe dá comida. Anderson reparte tudo com ela. Até as pequenas alegrias de uma vidinha pobre. Anderson corre, Xuxa corre. Anderson para, Xuxa para. Anderson sorri, Xuxa sorri. E ganha um pedacinho de pão, retirado do lanche de margarina barata que o menino roubou do barraco, antes de partir. Anderson chega no terreno ao lado do córrego, utilizado como campinho de futebol. É o Beira-Córrego. Os outros meninos protestam:


- Porra, meu, essa cachorra é uma bosta. Ela fica correndo atrás da bola.

Anderson sorri:

- E daí? Ela quer brincar também, ué.

Os outros meninos aceitam o argumento de Anderson. Xuxa é mais um. O pequeno campinho de terra podre se transforma em um imenso estádio imaginário, lotado de uma torcida fiel e construída com sonhos. O jogo começa. Anderson faz um grande lance. Dribla dois e chuta. A bola velha e desbotada bate no travessão, feito com galhos tortos de árvores secas. Um imaginário e tonitroante úúúúúúúúhhh se levanta na cabecinha sonhadora de todos os meninos. Xuxa abana o rabo:

- Au!

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